Em se tratando de um instrumento atrelado à uma
instituição (no caso a UESB) que dentre outros objetivos está a produção do
conhecimento científico e, mas particularmente, sendo uma iniciativa do
Departamento de Geografia, que visa identificar, sistematizar e disseminar informações,
optou-se por definir, sucintamente, os conceitos de ciência e cultura;
esclarecer o recorte territorial a que
se volta, o qual, de imediato, o intitula (Região de Vitória da Conquista) e,
ainda, discutir muito objetivamente o significado do tão propalado período
técnico-científico.
A influência de Vitória
da Conquista recai sobre uma ampla região, perpassando todas as
regionalizações instituídas oficialmente. Para burlar tal situação, evitou-se a
adoção de qualquer uma delas, recorrendo a uma escala territorial com contornos
flexíveis ora abrangendo municípios mais diretamente influenciados ora abrangendo
outros mais longínquos, mas que sob um ou outro ponto de vista interdepende com
essa cidade. Se tomássemos a Região Sudoeste, por exemplo, estaríamos
falando de 39 municípios que contempla os municípios de Jequié e
Itapetinga, mas deixa de fora, paradoxalmente, o município de Brumado. As
microrregiões geográficas do IBGE, nesse caso a microrregião de Vitória da Conquista,
do mesmo modo, não dá conta da influência da cidade, como tantas outras,
inclusive a mais contemporânea, oriunda do MDA, divisão em territórios de
identidade, contemplando o Território de Vitória da Conquista 24 municípios.
Os conceitos de
ciência e cultura são tratados numa vertente mais moderna designando uma maior
aproximação do cotidiano das pessoas o que contraria a visão mais erudita. Em seu sentido amplo e clássico, a ciência é um
saber rigoroso, isto é, um conjunto de
conhecimentos metodicamente adquiridos, mais ou menos sistematicamente
organizados, e suscetíveis de serem transmitidos por um processo pedagógico de
ensino. Mais modernamente, é a modalidade de saber constituída por um conjunto
de aquisições intelectuais que tem por finalidade propor uma explicação
racional e objetiva da realidade (JAPIASSU e MARCONDES, 1996, p.43).
Ainda conforme estes
autores, a compreensão de ciência não está desvinculada da técnica ou
tecnologia voltada à explicação e aplicabilidade em situações reais. Num
período precedente a ciência era totalmente desvinculada do plano real
restringindo ao nível teórico enquanto saber metódico e absolutamente verdadeiro.
“[...]. As ideias científicas não são totalmente independentes da filosofia, da
religião e das ideologias que impregnam o meio em que vivem os pesquisadores”
(JAPIASSU e MARCONDES, 1996, p.44).
Popper (appud Sposito) defende a utilização
ortodoxa do método. [...] procura consolidar a força do positivismo lógico,
voltando a uma postura cartesiana de ciência. [...] Feyerabend, por sua vez,
pensa de uma maneira exatamente contrária. [...] o rigor metodológico é muito
mais um problema que um caminho para a produção científica (SPOSITO, 2004, p.
50).
A técnica por outro
lado define-se como um conjunto de procedimentos utilizados em busca de certos
resultados que, também nesta proposta é entendida tanto como resultante de um
conhecimento científico como de um conhecimento empírico a exemplo de tecnologias
simples e rudimentares empregadas pelos agricultores e suas famílias no
tratamento e utilização da terra. Assim sendo, quando propomos uma disseminação
e/ ou popularização do conhecimento científico e de tecnologias que possam
contribuir para processos capazes de melhorar a vida das pessoas intencionamos
também resgatar as experiências e práticas bem sucedidas.
[...]. Em muitos ambientes sociais rurais dominados pela prolongada
ausência de homens, as mulheres tratam das questões de desmatamento, degradação
do solo, escassez de água e poluição como parte de seu cotidiano. Elas reagem a
aparentemente bem-intencionados, mas frequentemente ingênuos pacotes de
’desenvolvimento’ com perícia e engenhosidade [...] (BELL, 1996, p.207).
Situações
como esta abre a possibilidade de introduzir o conceito de cultura, definido
como representante de elementos artísticos, científicos, religiosos e
filosóficos de uma dada sociedade e, num
sentido amplo, das técnicas, costumes e usos característicos da vida cotidiana.
É considerada também como a socialização ou disseminação de fatos culturais via
educação, meios de comunicação e difusão de informações em grandes escalas.
Cultura é “todo o conjunto de regras e comportamentos pelos quais as
instituições adquirem um significado para os agentes sociais e através dos
quais encarnam em condutas mais ou menos codificadas” (JAPIASSU e MARCONDES, 1996, p.61).
Segundo Santos,
(1994), os meios técnicos “criados recentemente se tornaram mundiais, mesmo que
sua distribuição geográfica seja, como antes, irregular e o seu uso social
seja, como antes, hierárquico” trazendo como marcas a imprescindibilidade da
ciência, tecnologia e informação (SANTOS, 1994, p.42).
Importa a este
trabalho a constatação de um período denominado por muitos de
técnico-científico onde a tecnologia informacional particularmente assume
grandes proporções, mas, sobretudo a observação de que apesar da difusão ser
muito mais rápida em relação a períodos precedentes, as novas tecnologias são
desigualmente distribuídas entre as diferentes escalas geográficas e no
interior de cada uma delas.
SPOSITO,
Eliseu Savério. Geografia e filosofia: contribuição para o ensino do pensamento
geográfico. São Paulo: UNESP, 2004.