domingo, 14 de setembro de 2014

A CULTURA ALIMENTÍCIA NA REGIÃO DE VITÓRIA DA CONQUISTA, BAHIA: RESGATE, ELABORAÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DE DOCES ARTESANAIS


Introdução

A presente proposta visa resgatar a cultura da região em torno de Vitória da Conquista, por meio da alimentação considerada, como reveladora de algumas de suas particularidades. Concretamente o trabalho se estrutura em dois grandes eixos que se completam.  Prever resgatar por meio de diferentes fontes tipo e preparo de alimentos, prioritariamente doces artesanais, ação que permeia toda a execução da proposta, devendo ser sistematizado e divulgado os resultados alcançados.  Associado a isso, a sua operacionalização prevê seleção de grupos de mulheres em condições sociais e econômicas desfavoráveis que deverão se organizar referendadas em princípios de participação, economia solidária e empreendedorismo e, serem capacitadas via metodologias participativas em: noções fundamentais ao projeto;  treinamento em informática direcionada, noções de organizações sociais juridicamente cabíveis e, principalmente em elaboração e comercialização de doces selecionados coletivamente como forma de adquirir alguma renda vislumbrando uma potencial melhoria na qualidade de suas vidas.

Vale a pena ressaltar que o universo será processualmente definido, pleiteando desde o município e a cidade de VCA até a região sob sua influência. A ideia é propor a realização das ações concomitante e alternadamente a setores como: associações agrícolas, povoados, distritos, associação de bairros destinando-se especificamente as mulheres representadas em cada um deles, dependendo da aceitação, interesse e ‘colaboração.

Ponto de partida

O despertar da presente ideia, inicialmente, teve e tem o livro da Professora Amélia B. de Souza, “A Alimentação no Planalto de Conquista (1930 A 1950)”, legado de extrema importância expressa na valorização da alimentação como um traço cultural dos mais significativos de uma dada realidade regional. Nele está contida série de receitas de variadas comidas, interessando-nos, nesse momento, a descrição de apenas algumas receitas de doces (em anexo). Além desta importante fonte, o levantamento das receitas iniciais se deu via relato de experiência de uma senhora que representa um arquivo vivo da culinária conquistense, apelidada de Dodô. Ela foi e ainda é o braço direito da família da matriarca Olívia Flores. Segundo seus relatos quando esta senhora viveu, participou efetivamente da política conquistense, cabendo a Dodô a responsabilidade de preparar alimentos, não raras vezes, para grande número de pessoas desde os políticos, até os eleitores que chegavam de diferentes lugares e se apoiavam na casa dessa renomada senhora da história conquistense. Por outro lado, membros da própria família, suas práticas culinárias contribuíram para a constatação e exercitação preliminar da elaboração e comercialização como ação de grande potencial em vários aspectos, particularmente, na geração de alguma renda.

A seleção preliminar de algumas receitas teve como base, aspectos como facilidade na elaboração, acesso fácil dos insumos utilizados e, outros como a praticidade, exotismo e perenidade observadas. Vale salientar, por exemplo, o doce jenipapo, que vem demonstrando (ao longo da experiência) o quinhão de possibilidades nada desprezíveis. É possível aludir que ele dispõe de tais características, perfazendo no que genericamente se reconhece como seco, de fácil armazenamento, conservação, transporte, passível de utilização de selos artesanais, estando fora da mira dos órgãos de fiscalização, como ocorre, por exemplo, com o doce de leite pastoso.

É importante destacar que a prática e observação de receitas concebidas anteriormente (por mulheres do início do século XX) se encontram na base daquelas experimentadas hoje, sofrendo, todavia, adequações postas em práticas por doceiras mais modernas, levando em conta o contexto mais contemporâneo em que nos inserimos. Exemplo disso é o ato de se reduzir quantidades de açúcar, de ovos etc. Em outras palavras, as doceiras de hoje dominam, dialogam e incorporam princípios fundantes das receitas mais tradicionais, produzindo, dialeticamente, novas roupagens quando pertinentes.

A proposta se justifica pela possibilidade de intervir/contribuir com uma realidade sócio-espacial carente nos seus mais diferentes níveis, não apenas num plano material e imediato, mas, sobretudo, no referente ao plano das ideias e entendimentos do contexto de vida que estão inseridos, deficiências estas resultantes de uma correlação de fatores instaurada no decorrer da história brasileira que não vem ao caso adentrar neste momento.

Vale ressaltar, ainda, que a ideia é dota-lo de caráter permanente iniciada com grupos de mulheres de Vitória da Conquista, mas almejando mulheres de municípios integrantes da região aludida.

 

Alguns conceitos

A participação é uma das dimensões da democracia. Só se aprende a participar participando. Para garantir uma prática social participativa é necessário abrir espaços para que os indivíduos apresentem suas ideias, troquem experiências e construam propostas que representem a síntese dos interesses desejos opiniões e competências do grupo.  A participação não é um sonho simples e exige esforço. A maior dificuldade em sua complementação é o ranço do acreditar que quem pode ou deve resolver os problemas e tomar decisões são os mais sábios, os mais ricos ou os mais fortes. É necessário que o processo participativo inspire confiança, infundindo nos participantes a ideia de que todos sairão ganhando.

Ao empreendedorismo é atribuído à percepção e exploração de novas oportunidades, no âmbito dos negócios, utilizando recursos disponíveis de maneira inovadora, onde empreendedor e inovação interagem, totalmente. Numa síntese das várias teorias da literatura o empreendedor é visto como “uma pessoa que imagina, desenvolve e realiza visões”. Os empreendedores são ainda, competentes em buscar, utilizar e controlar recursos possui iniciativa, autonomia, autoconfiança e otimismo. Visto por ouro lado, empreender aqui nada tem a ver com dom, capacidade, opção, mas como única alternativa, obrigatória quando se sente acuado, sem poder se dar ao luxo de ter vergonha, medo, ser pessimista, acomodado e sim cavadores de oportunidades e solucionadores de problemas e demandas.

A Economia Solidária, por sua vez, remete à questão da cooperação, da solidariedade, da participação, do associativismo, da partilha, de laços de confiança, dentre outros. Ela orienta-se aos problemas sociais gerados pela globalização, mas também é reconhecida como fundamento de um desenvolvimento sustentável, socialmente justo e voltado para a satisfação racional das necessidades de cada um e de todos os cidadãos, significando práticas de relações econômicas e sociais que, de imediato, visam propiciar a sobrevivência e a melhora da qualidade de vida de milhões de pessoas em diferentes partes do mundo (MANCE,2002). Pressupõe uma visão integrada das dimensões sociais. Remete inevitavelmente à questão da cooperação, da solidariedade ou do capital social, pois citando Martins: “O verdadeiro diferencial do desenvolvimento local não se encontra em seus objetivos (bem-estar, qualidade de vida, endogenia, sinergias etc.), mas na postura que atribui e assegura à comunidade o papel de agente e não apenas de beneficiária do desenvolvimento. Isto implica rever a questão da participação” (MARTINS, 2002, p. 52). A participação mencionada por Martins não deve e não pode se limitar a envolvimentos esporádicos e parciais. É com esse entendimento que o autor declara que “o caráter necessariamente participativo e democrático é o verdadeiro ‘calcanhar de Aquiles’, uma vez que a participação é de fato uma conquista a ser empreendida individualmente por cada pessoa, num processo em que cada vez mais ela se torna cidadã” (MARTINS, 2002, p. 52).

Recursos metodológicos

Mobilizar e sensibilizar setores sociais visando a seleção do grupo (s) a ser trabalhado

Construir um cronograma-agenda de trabalho coletivamente

Discutir conceitos indispensáveis à execução do projeto, tais como: economia solidária, cooperativismo, integração, instituição jurídica de organismo social, escala local, execução de ideias, amor entre outros.

Realizar um pequeno diagnóstico participativo com vista à criação e caracterização do grupo

Etapas, princípios e domínios que pressupõe a execução do projeto

 

          Formação de grupo

          Pesquisa e divulgação indeterminada de receitas de doces

          Seleção de alguns doces – critérios importantes: facilidade de transporte, durabilidade, processo de fabricação etc. etc.

          Fabricação

          Conservação e apresentação do produto – selo artesanal

          Integração a diferentes redes desde as relacionadas a fabricantes de produtos similares, quanto a de economia solidária, de empreendedorismo feminino, canais possíveis de venda.

          Venda em si – diferentes possibilidades.  Consolidação de  rede de comercialização  com  estrutura de comunicação eficiente - Ideias para comercialização: identificar e entrar em contato com grupos sociais que desenvolvem atividades similares; criar home Page da atividade; entrar em contato com empresas nacionais e internacionais utilizando o argumento de socialmente justo; estruturar barracas – pontos de vendas em diferentes localidades e cidades da região; sensibilizar e tornar público a responsabilidade de Buffet no tocante a sobremesa com produtos genuinamente regionais; contatar restaurantes, lanchonetes e cantinas escolares; Identificar e analisar etapas práticas do processo produtivo como: planejamento das ações; aquisição de insumos; processamento; apuração de custos, venda em feiras, etc.;

É importante frisar que mesmo sendo as etapas de execução distintas, ora discutindo, posturas, participação, formação de grupo, ora elaborando, estabelecendo redes, pensando em circuitos de vendas, a fabricação, legitimação e revisão de receitas ocorre desde o primeiro momento do projeto.

BIBLIOGRAFIA

MANCE. Euclides André. Redes de economia solidária e sustentabilidade, 2002. Disponível no site: http://www.milenio.com.br/mance/fsm3.htm. Acesso em 19 de setembro de 2005.

MARTINS. Sérgio Ricardo Oliveira. Desenvolvimento Local: questões conceituais e metodológicas. In: Revista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 3,  N. 5. Campo Grande: UCDB, 2002. 

SOUZA, Amélia Barreto. A Alimentação no Planalto de Conquista (1930 A 1950). Vitória da Conquista: UESB, 1996.

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