Introdução
A presente proposta visa resgatar
a cultura da região em torno de Vitória da Conquista, por meio da alimentação
considerada, como reveladora de algumas de suas particularidades. Concretamente
o trabalho se estrutura em dois grandes eixos que se completam. Prever resgatar por meio de diferentes fontes
tipo e preparo de alimentos, prioritariamente doces artesanais, ação que
permeia toda a execução da proposta, devendo ser sistematizado e divulgado os
resultados alcançados. Associado a isso,
a sua operacionalização prevê seleção de grupos de mulheres em condições sociais
e econômicas desfavoráveis que deverão se organizar referendadas em princípios
de participação, economia solidária e empreendedorismo e, serem capacitadas via
metodologias participativas em: noções fundamentais ao projeto; treinamento em informática direcionada,
noções de organizações sociais juridicamente cabíveis e, principalmente em
elaboração e comercialização de doces selecionados coletivamente como forma de
adquirir alguma renda vislumbrando uma potencial melhoria na qualidade de suas
vidas.
Vale a pena ressaltar que o
universo será processualmente definido, pleiteando desde o município e a cidade
de VCA até a região sob sua influência. A ideia é propor a realização das ações
concomitante e alternadamente a setores como: associações agrícolas, povoados,
distritos, associação de bairros destinando-se especificamente as mulheres
representadas em cada um deles, dependendo da aceitação, interesse e
‘colaboração.
Ponto de partida
O despertar da presente ideia,
inicialmente, teve e tem o livro da Professora Amélia B. de Souza, “A
Alimentação no Planalto de Conquista (1930 A 1950)”, legado de extrema
importância expressa na valorização da alimentação como um traço cultural dos
mais significativos de uma dada realidade regional. Nele está contida série de
receitas de variadas comidas, interessando-nos, nesse momento, a descrição de
apenas algumas receitas de doces (em anexo). Além desta importante fonte, o
levantamento das receitas iniciais se deu via relato de experiência de uma
senhora que representa um arquivo vivo da culinária conquistense, apelidada de
Dodô. Ela foi e ainda é o braço direito da família da matriarca Olívia Flores.
Segundo seus relatos quando esta senhora viveu, participou efetivamente da
política conquistense, cabendo a Dodô a responsabilidade de preparar alimentos,
não raras vezes, para grande número de pessoas desde os políticos, até os
eleitores que chegavam de diferentes lugares e se apoiavam na casa dessa
renomada senhora da história conquistense. Por outro lado, membros da própria
família, suas práticas culinárias contribuíram para a constatação e exercitação
preliminar da elaboração e comercialização como ação de grande potencial em
vários aspectos, particularmente, na geração de alguma renda.
A seleção preliminar de algumas
receitas teve como base, aspectos como facilidade na elaboração, acesso fácil
dos insumos utilizados e, outros como a praticidade, exotismo e perenidade
observadas. Vale salientar, por exemplo, o doce jenipapo, que vem demonstrando
(ao longo da experiência) o quinhão de possibilidades nada desprezíveis. É
possível aludir que ele dispõe de tais características, perfazendo no que
genericamente se reconhece como seco, de fácil armazenamento, conservação,
transporte, passível de utilização de selos artesanais, estando fora da mira
dos órgãos de fiscalização, como ocorre, por exemplo, com o doce de leite
pastoso.
É importante destacar que a
prática e observação de receitas concebidas anteriormente (por mulheres do
início do século XX) se encontram na base daquelas experimentadas hoje,
sofrendo, todavia, adequações postas em práticas por doceiras mais modernas,
levando em conta o contexto mais contemporâneo em que nos inserimos. Exemplo
disso é o ato de se reduzir quantidades de açúcar, de ovos etc. Em outras
palavras, as doceiras de hoje dominam, dialogam e incorporam princípios
fundantes das receitas mais tradicionais, produzindo, dialeticamente, novas
roupagens quando pertinentes.
A proposta se justifica pela
possibilidade de intervir/contribuir com uma realidade sócio-espacial carente
nos seus mais diferentes níveis, não apenas num plano material e imediato, mas,
sobretudo, no referente ao plano das ideias e entendimentos do contexto de vida
que estão inseridos, deficiências estas resultantes de uma correlação de fatores
instaurada no decorrer da história brasileira que não vem ao caso adentrar
neste momento.
Vale ressaltar, ainda, que a
ideia é dota-lo de caráter permanente iniciada com grupos de mulheres de
Vitória da Conquista, mas almejando mulheres de municípios integrantes da
região aludida.
Alguns conceitos
A participação é uma das
dimensões da democracia. Só se aprende a participar participando. Para garantir
uma prática social participativa é necessário abrir espaços para que os
indivíduos apresentem suas ideias, troquem experiências e construam propostas
que representem a síntese dos interesses desejos opiniões e competências do
grupo. A participação não é um sonho
simples e exige esforço. A maior dificuldade em sua complementação é o ranço do
acreditar que quem pode ou deve resolver os problemas e tomar decisões são os
mais sábios, os mais ricos ou os mais fortes. É necessário que o processo
participativo inspire confiança, infundindo nos participantes a ideia de que
todos sairão ganhando.
Ao empreendedorismo é atribuído à
percepção e exploração de novas oportunidades, no âmbito dos negócios, utilizando
recursos disponíveis de maneira inovadora, onde empreendedor e inovação
interagem, totalmente. Numa síntese das várias teorias da literatura o
empreendedor é visto como “uma pessoa que imagina, desenvolve e realiza
visões”. Os empreendedores são ainda, competentes em buscar, utilizar e
controlar recursos possui iniciativa, autonomia, autoconfiança e otimismo.
Visto por ouro lado, empreender aqui nada tem a ver
com dom, capacidade, opção, mas como única alternativa, obrigatória quando se
sente acuado, sem poder se dar ao luxo de ter vergonha, medo, ser pessimista,
acomodado e sim cavadores de oportunidades e solucionadores de problemas e
demandas.
A Economia Solidária, por sua
vez, remete à questão da cooperação, da solidariedade, da participação, do associativismo,
da partilha, de laços de confiança, dentre outros. Ela orienta-se aos problemas
sociais gerados pela globalização, mas também é reconhecida como fundamento de
um desenvolvimento sustentável, socialmente justo e voltado para a satisfação
racional das necessidades de cada um e de todos os cidadãos, significando
práticas de relações econômicas e sociais que, de imediato, visam propiciar a
sobrevivência e a melhora da qualidade de vida de milhões de pessoas em
diferentes partes do mundo (MANCE,2002). Pressupõe uma visão integrada das
dimensões sociais. Remete inevitavelmente à questão da cooperação, da
solidariedade ou do capital social, pois citando Martins: “O verdadeiro
diferencial do desenvolvimento local não se encontra em seus objetivos (bem-estar,
qualidade de vida, endogenia, sinergias etc.), mas na postura que atribui e
assegura à comunidade o papel de agente e não apenas de beneficiária do
desenvolvimento. Isto implica rever a questão da participação” (MARTINS, 2002,
p. 52). A participação mencionada por Martins não deve e não pode se limitar a
envolvimentos esporádicos e parciais. É com esse entendimento que o autor
declara que “o caráter necessariamente participativo e democrático é o
verdadeiro ‘calcanhar de Aquiles’, uma vez que a participação é de fato uma
conquista a ser empreendida individualmente por cada pessoa, num processo em
que cada vez mais ela se torna cidadã” (MARTINS, 2002, p. 52).
Recursos metodológicos
Mobilizar e sensibilizar setores
sociais visando a seleção do grupo (s) a ser trabalhado
Construir um cronograma-agenda de
trabalho coletivamente
Discutir conceitos indispensáveis
à execução do projeto, tais como: economia solidária, cooperativismo,
integração, instituição jurídica de organismo social, escala local, execução de
ideias, amor entre outros.
Realizar um pequeno diagnóstico
participativo com vista à criação e caracterização do grupo
Etapas, princípios e domínios que
pressupõe a execução do projeto
• Formação
de grupo
• Pesquisa
e divulgação indeterminada de receitas de doces
• Seleção
de alguns doces – critérios importantes: facilidade de transporte,
durabilidade, processo de fabricação etc. etc.
• Fabricação
• Conservação
e apresentação do produto – selo artesanal
• Integração
a diferentes redes desde as relacionadas a fabricantes de produtos similares,
quanto a de economia solidária, de empreendedorismo feminino, canais possíveis
de venda.
• Venda
em si – diferentes possibilidades.
Consolidação de rede de
comercialização com estrutura de comunicação eficiente - Ideias
para comercialização: identificar e entrar em contato com grupos sociais que
desenvolvem atividades similares; criar home Page da atividade; entrar em
contato com empresas nacionais e internacionais utilizando o argumento de
socialmente justo; estruturar barracas – pontos de vendas em diferentes
localidades e cidades da região; sensibilizar e tornar público a
responsabilidade de Buffet no tocante a sobremesa com produtos genuinamente
regionais; contatar restaurantes, lanchonetes e cantinas escolares; Identificar
e analisar etapas práticas do processo produtivo como: planejamento das ações;
aquisição de insumos; processamento; apuração de custos, venda em feiras, etc.;
É importante frisar que mesmo
sendo as etapas de execução distintas, ora discutindo, posturas, participação,
formação de grupo, ora elaborando, estabelecendo redes, pensando em circuitos
de vendas, a fabricação, legitimação e revisão de receitas ocorre desde o
primeiro momento do projeto.
BIBLIOGRAFIA
MANCE. Euclides André. Redes de
economia solidária e sustentabilidade, 2002. Disponível no site:
http://www.milenio.com.br/mance/fsm3.htm. Acesso em 19 de setembro de 2005.
MARTINS. Sérgio Ricardo Oliveira.
Desenvolvimento Local: questões conceituais e metodológicas. In: Revista
Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 3,
N. 5. Campo Grande: UCDB, 2002.
SOUZA, Amélia Barreto. A
Alimentação no Planalto de Conquista (1930 A 1950). Vitória da Conquista: UESB,
1996.
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