Introdução
Esta proposta visa estimular comunidades
regionais a implementar nos espaços de moradia – ambientes externos, quintais e
entorno da habitação - práticas que os qualifiquem e potencializem em prol de
uma suposta melhor qualidade de vida e que de forma concatenada envolvam dimensões
sociais, como a ambiental, a econômica, entre milhões de outras. Concretamente,
a proposta se efetiva na seleção de pessoas/comunidade interessadas que não só
serão capacitadas mas levadas a implementar ações correlacionadas. As temáticas
envolvidas são amplas e passíveis de adequação a depender das demandas
apresentadas. De antemão já se vislumbra necessidade de discussão de noções de
economia solidária, aproveitamento e destino do lixo e dejetos sólidos a partir
de criação de compostos orgânicos e elaboração de biofertilizantes,
reaproveitamento de vasilhames (sucatas, pneus) como caqueiros onde se fizer
necessário; paisagismo, implantação de hortas e ou cultivo de algumas
hortaliças, ervas medicinais e árvores frutíferas ou não, criação de galinhas
caipiras, nutrição, possibilidades de auferir alguma renda, organização e
aproveitamento do espaço. Em sua execução, além de alguns capacitores
estratégicos a ideia é incorporar voluntários indiscriminados. Espera-se com
sua realização mostrar a viabilidade e possibilidade de melhor aproveitamento
dos espaços da moradia, os quais para muitos se resumem ao único lugar
disponível.
Justificativas
O trabalho se justifica, primeiramente, pela
possibilidade de intervir/contribuir com uma realidade sócio espacial carente
nos seus mais diferentes níveis, que urge por intervenção e contribuição
variadas.É comum se reconhecer hoje que o modo de vida urbano assume hegemonia na totalidade da sociedade brasileira quer queira nas cidades propriamente ditas quer queira nas zonas rurais. De certa forma esta condição tem se manifestado de forma confusa e, em certa medida, prejudicial aos trabalhadores em geral particularmente os moradores da zona rural. Tal pressuposição se referenda, por exemplo, na observação de que perdeu-se a tradição de cultivar e manter em seus quintais diferentes produtos alimentícios que, outrora, garantiam uma certa autossuficiência, recorrendo aos mercados apenas para adquirir utensílios e produtos que não conseguiam produzir. Inúmeros fatores têm contribuído para atitudes contrárias a essa, dentre eles, a venda da mão de obra, a mercantilização da totalidade de ingredientes e utensílios necessários, a incorporação de uma cultura urbana, a restrição de suas propriedades muitas se reduzindo ao espaço de moradia frente à grande propriedade ocupada por lavouras comerciais etc. Tudo isso tem provocado alterações nas paisagens dos espaços da moradia, sendo comum não existir nenhum cultivo agrícola nos seus interiores, o que ajuda a restringir, em nossa avaliação, as condições de vida de indiscriminados segmentos sociais.
Pressupostos
Teóricos:
Inicialmente,
é mister trazer à tona a compreensão de espaço a que nos apegamos e que atua
como estrutural a esse projeto, amalgamando todas as outras categorias. O
espaço pode ser qualificado como algo dado, concreto, auto evidente o que não é
possível considerar sobre a organização e o sentido do espaço que resultam da
dinâmica de experiências sociais (SOJA, 1993) ou como nos coloca Costa e Gomes
[...] a constatação de que a
espacialidade (social) compreende ao mesmo tempo uma dimensão concreta,
geralmente vinculada ao seu caráter produtivo e disciplinar, e uma dimensão
simbólica que em diferentes intensidades, convivem num mesmo todo, leva-nos à conclusão
de que é impossível apreender a complexidade do processo de territorialização
da sociedade sem procurarmos conhecer esta múltipla interação (1988, p.55).
No caso
particular desta proposta o espaço é especificamente tratado em sua relação com
a moradia, função esta que representa a ocupação e uso espacial em maior
proporção dentre todos os outros. O
espaço da moradia, por outro lado sob a ótica geográfica extrapola a habitação
em si (espaço melhor tratado pelos arquitetos) envolvendo não só a habitação
como os seus arredores e a oferta de bens e serviços neles contidos. Se, então,
a habitação é tida como diferente da moradia, importante se faz dizer que neste
trabalho pretendemos enfocar o conceito mais amplo que acima de tudo envolve o
concreto e o simbólico, bem como as relações e a dinâmica social como
condicionantes e, ao mesmo tempo, resultados espaciais (SANTOS, 1999).Morar faz parte do conjunto de necessidades básicas de sobrevivência, devendo ser considerado como um dos direitos fundamentais do cidadão, instrumento de inclusão social e melhoria de qualidade de vida. A habitação, nesse contexto, não designa apenas um abrigo individual, mas inclui tanto o seu entorno como os que nela moram. É um espaço social de grande importância que sugere a convivência familiar e o respeito entre as pessoas e a natureza. As condições, tanto do ambiente interno, o abrigo físico que é a casa, quanto dos arredores, influenciam e trazem consequências diretas sobre a saúde física e mental, a segurança emocional e até o desempenho dos indivíduos no trabalho.
Mais do que o ambiente físico, a moradia enfoca a dignidade da família, da qualidade de vida, da produção de alimentos saudáveis e para a subsistência, do bem estar e melhoria da autoestima, do embelezamento das propriedades.
A busca por uma casa que dê conta de maneira plena das suas finalidades deve atentar-se para o fato de que ela pressupõe intimidade e privacidade, domesticidade, comodidade, eficiência, conforto e bem estar, sem necessariamente estarem relacionadas à tecnologia ou implementos mecânicos de grande vulto (RYBCZNSKI, 1996).
Essa concepção de moradia é a referência principal da presente proposta que por meio de visitas diretas, objetiva diagnosticar e apresentar alternativas aos problemas de fáceis soluções, como por exemplo, a higiene doméstica e o cuidado com equipamentos que oferecem perigo particularmente às crianças, com cuidados e precauções com os animais domésticos, com o cultivo de hortaliças e legumes a fim de diversificar e qualificar a alimentação, com treinamentos em aproveitamento, elaboração e conservação de alimentos, com a possibilidade de obtenção de alguma renda mediante elaboração e comercialização de produtos pertinentes aos recursos locais, com encaminhamento à emissão de documentos referentes aos membros da famílias, com levantamento e indicação de ações, programas e projetos governamentais destinados a apoiar a solução de problemas similares aos que foram identificados, com orientação sobre o destino do lixo e dejetos sólidos; origem e tratamento mínimo da água consumida. Juntando-se a tudo isto, noções de Economia Solidária, que dentre outros princípios, preza pela cooperação, aceitação das diferenças, solidariedade, reconhecimento do lugar fundamental da mulher e intercâmbio respeitoso com a natureza.
A sustentabilidade tem um caráter amplo e comporta várias dimensões que são a expressão do desenvolvimento nos vários aspectos da vida de uma localidade, região ou país. Desenvolver, de modo sustentável, requer parceria entre o Estado, o mercado e a sociedade civil, pressupondo uma nova dinâmica econômica integrada, de base local, na qual sejam estimuladas a diversidade econômica e a complementaridade de empreendimentos, de modo a gerar uma cadeia sustentável de iniciativas. Requer também a soma de esforços, de talentos e de criatividade dos atores governamentais, empresariais e da sociedade civil, remunerados e voluntários, envolvidos num programa de capacitação e numa estratégia de comunicação social (BAHIA. CAR, 1995).
Essa dimensão foi o ponto de partida para a criação do conceito de sustentabilidade, originando um novo referencial para o desenvolvimento. Na verdade, praticamente se inverteu a compreensão do desenvolvimento, antes vista, principalmente, como um maior domínio do homem sobre a natureza, passando, posteriormente, a incorporar a conservação e a convivência com o meio natural como condição para se atingir o desenvolvimento.
Esta mudança de concepção afetou as demais dimensões, na medida em que a economia e a sociedade passaram a se referenciar na preservação ambiental, não só como condição para uma boa qualidade de vida, presente e futura, mas também como forma de conquistar um crescimento permanente e, consequentemente, uma melhoria das condições materiais de trabalho e de sobrevivência da população (BAHIA, CAR, 1995).
Outrossim, a proposta também está alinhada à busca por um olhar diferenciado em relação à Agricultura Familiar, no sentido de que o foco principal de ação, sai das questões estritamente agrícolas, e volta-se para a família dos agricultores, com suas formas peculiares de produção, vida social e cultura. Essa perspectiva reflete a discussão em torno da Multifuncionalidade da Agricultura Familiar (MFA), onde há um reconhecimento dos múltiplos papeis desempenhados pelas unidades familiares, no sentido de produzir, além dos produtos agrícolas, outros bens imateriais e não mercantis que podem ser apropriados pelas populações rurais e urbanas. Para tanto, atuando em temas como segurança alimentar, qualidade dos alimentos, proteção do meio ambiente, valorização dos diferentes tipos de territórios e geração de oportunidades de emprego, de renda e lazer (BONNAL e MALUF (2007); CAZELLA e ROUX (1999); WANDERLEY, (2003)).
Objetivo
Geral:
Qualificar comunidades da Região de Vitória
da Conquista, para o melhor aproveitamento e uso do espaço da moradia e seus
arredores.
Objetivos Específicos:
·
Disseminar a prática de ações voltadas ao espaço
da moradia capazes de melhorar a qualidade de vida da população envolvida.· Conscientizar segmentos populacionais acerca da necessidade de integração das diversas dimensões sociais (econômica, política, ambiental, cultural) na construção de processos de desenvolvimento.
· Contribuir para a descoberta de vocações locais viáveis à geração de pequenas rendas;
Referência Bibliográfica:
BAHIA.
Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional – CAR. Programa de Desenvolvimento Regional Sustentável – PDRS: modelo
teórico-metodológico. Salvador, 1995. (Série Caderno Car., 6).
BONNAL, P. & MALUF, R. S.
Do uso das noções de multifuncionalidade e território nas políticas agrícolas e
rurais do Brasil. In: Mundo Rural:
configurações rural-urbanas: poderes e políticas/ Eli Napoleão de Lima,
Nelson G. Delgado, Roberto José Moreira (org.). Rio de Janeiro: Mauá X: Edur,
2007.CAZELLA, Ademir A. & ROUX, Bernard. “Agribusiness em questão: a emergência da agricultura multifuncional”. In: Estudos Sociedade e Agricultura, n.º 13, out., 1999.
GOMES, P. C. E COSTA, R. H. O espaço da modernidade. In: O espaço em questão. Terra Livre 5. São Paulo: AGB, Marco Zero, 1988.
RYBCZYNSKI, W. Casa: pequena história de uma ideia. Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 1996.
SANTOS, V. C. C. As novas formas de moradia e a produção sócio espacial da cidade de Vitória da Conquista - Ba. Dissertação (Mestrado em Geografia). Departamento de Geografia, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 1999.
SOJA, E. W. Geografias pós-modernas: a reafirmação do espaço na teoria social crítica. Rio de Janeiro: Zahar, 1993.
WANDERLEY, Maria de Nazareth B. “Prefácio”. In: MALUF, R. S. & CARNEIRO, M. J. (orgs.). Para além da produção: multifuncionalidade e agricultura familiar. Rio de Janeiro: MAUAD, 2003.
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